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quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

OUSADIA

Brinde ao som das borboletas
pairando sobre a gravidade
estetizando céu adentro
desenhando o ar
desfrutando liberdade

E para os leigos:
Quem ousará dizer que foi lagarta?

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

DA SAUDADE...

Saudade corta-lábios
beijos boca-tesão
cheiro mel-suor
desejo pecado-carne

************************

Saudade é o tempo
tempo que não passa
enquanto passa o tempo

************************

Saudade morta-mata
sentido vivo-viva
sentido morte-mata
saudade vide-vida

************************

Saudade
espinho crú de nervo e calo
pote d'água sem gargalo
Saudade
truque de carta fora do baralho

************************

Saudade
lembranças cristalinas
bomba sem efeito moral
ineficácia do poder
saudade
hino impossível de esquecer


segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

GOTAS DE ORVALHO

O sol se revalida
 ao céu pede carona

enquanto caem gotas de orvalho

sobre pés descalços
rachados pelo esforço diário

quando nada mais se encanta
sob a totalidade nada se distrai

me lembro quando criança
brincar de olhar o sol nascer
ao longo da mansidão

luz que irradiava
aquecia a alma

enquanto isso
 caiam gotas de orvalho

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

TRANSE 3 (UM DIA, DEPOIS DA CRIAÇÃO)


Descendo ao paraíso 
profundamente imaginário,
comi a maçã 
arrotei Eva.


CAMUFLAGEM

Escalei o morro dos sonhos
procurando o paraíso


no primeiro dia
o pecado bateu à porta
entrou aos olhares primeiros
conspirou sob dermes e salivas
abusou do meu eu


Sussurrou pelos lábios dela
transpirando prazeres


E como fiel seguidor dionisíaco
não rejeitei-me ao acaso
bulinei-me corpo e mente
afoguei meu ego


demasiadamente afinei meu instinto
no mar vermelho da sedução
mergulhando entre libidos e ilusões
fascinando aparentemente minha razão
que se destruía com a metástase ardente

e assim foi
camuflando-se
entorpecendo-me com o gosto passional do desejo


segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

REFLEXÃO - DESENCADEADO

Procuro não prender-me a um só estilo. Prefiro arriscar-me ao anticonvencionalismo, ao pacto com as idéias não-concebidas e aparentemente distantes. Acredito que o grande barato da poesia é ausentar-se de regras. É tão fácil copiar estilos ao invés de tentar criá-los, encontrar erros ao invés de tentar entendê-los, calar-se ao invés de arriscar-se, dificultar-se. Tão cômodo ter senso comum. O experimentar pode ser a chave para a inovação perceptiva, desencadeando uma abertura atemporal de qualquer estabilidade racional.

José Eduardo Calcinoni

OUTROS

Outro este? Porque não?
Se acaso fosse outro, igual não seria?
Se igual fosse outro, como explicaria?
Cópias? Outros como outros?

Mas se outros como outros:



A essência sobreviveria?


quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

RESPOSTA

Essa fonte de idéias que gera a arte de escrever nem parece às vezes que é inesgotável. Os black-out's mentais ocorrem freqüentemente no cérebro poético. Há horas, dias, meses, que às vezes passam em vão. Mas será que realmente passam em vão? Muitas idéias precisam de um período mínimo de gestação, seja no inconsciente, ou seja, informações já escritas e armazenadas. Assim como as fétidas fezes de alguns animais se transformam em poderosos e incomparáveis adubos, as palavras precisam também de um período de curtimento. Digamos que, assim como uma planta, ela nasce semente, cresce, floresce e produz seus frutos - nem sempre bons. Tudo pode ser aproveitado de alguma forma para alguma coisa. O sentido só faz sentido se o buscarmos. Talvez a busca seja o próprio sentido, no sentido de que buscando nos desviamos por atalhos sensitivos que nos preparam em "banho-maria", temperando e desengenhando o estável e o improvável.

MAIS

Dizer
Mais do que se possa sentir


Sentir
Mais do que dizer palavras


Olhar
E nada ver


Ver
Além do que se possa olhar


Escrever
Algumas palavras assim


Assim
Mais do que dizê-las


ABANDONO

Abandono

falta de inspiração
más idéias


álcool, gordura e samba

desafino
incanções

Osso do Bagaço


abandono-me

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

JORNADA - PARTE 2 - CAMINHANDO

Já no mais puro desejo de navegar e naugrafar no oceano da trangressão racional, para que assim pudesse ultrapassar um obstáculo emblemático e tão antigo quanto o instinto de reprodução das espécies, eu progressei deixando as primeiras pegadas da minha jornada.


No primeiro altar que subi, pedi à Zaratustra um golpe de luz, que pudesse desencadear minhas mais leves reações e petrificar os sentimentos que poderiam vir à ser minha cruz.


Saindo da região totalmente devastada de idéias, esbarrei num objeto misterioso e reluzente. Era um medalhão dourado. Nele, estava escupido um símbolo e letras à qual não tive menor noção. Guardei-o no peito como se fosse um amuleto de proteção, pois passei a acreditar que assim o fosse.


Retirei das minha tralhas um velho livro, de orelhas grandes, empoeirado, e, o abri de forma simples, na mais subjetiva intenção, prevendo que aquilo seria uma pista para meu próximo passo.


Então, na linearidade - justo aquela que nunca quis - do pensamento momentâneo, joguei o amuleto num lago de percepções reais, mas inexistentes. Deixei fluir somente oxigênio em meu corpo, meditando por alguns minutos, e aceitando mais uma vez meu estado imprevisível de decisão.



JORNADA - PARTE 1 - O COMEÇO

Meu golpe começou a instalar-se com um Distúrbio Bipolar de Animo, e conseqüentemente, acabou levando-me ao óbito do décimo sexto sentido que desenvolveria.

O que poderia agora um Cavalheiro de Verona como eu tentar desfrutar da própria ânsia de escrever elevando apenas o ato de que não decriptei meus rotores cerebrais?

Enquanto todos lá ficaram rodeados de mosaicos, tentando a purificação, eu acreditava [ainda que muito pouco], que o auxílio psicoterápico dos monoteístas, não efetuaria na própria distinção das confrarias dos Nagôs e Yorubas.

Saí em busca do visionário acrônico, que o chamavam de Pentateuco, onde agrega respostas para algumas interrogações crônicas de minha constante jornada.

Todas as pistas que deveriam levar-me ao êxito, me alertaram que o começo seria tão díficil e tão requisitado quanto o meio e fim [se é que assim posso reparti-lo].

No sopé do monte Horebe, logo após o lago de sangue [ou groselha se assim melhorar], recebi apenas mais uma de minhas rotineiras visões que não me esclareciam absolutamente nada.

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

REFLEXO SÃO – BOSQUES-LOUCURA-ECO

A loucura é a profundidade abaixo da razão. A razão é a superfície de um lago-idéias-pensamento, que ultrapassada eleva a pressão-ágil-criação, nos libertando da decadência-moral-legal. É o pólen que origina o mel-instinto-inconsciência.




ANSEIO SISTEMÁTICO

Entre intrépidos sabores, o mais distante é o que sinto. Distante no sentido do normal. Normal que é o próximo do que somos — ou do que achamos ser, ou querem que sejamos. Seres impecáveis, implacáveis. Tolos sós. Sentindo a todo instante o sabor do pecado. Se é pecado original ou não? Não sei! O que importa é que nos liberta de um abismo sórdido e moribundo, rodeado de censos-comuns, papais-mamães, e, resultantes da simétrica razão. O sabor provém das misturas-sistêmicas — no amplo sentido da união substancial, porém, conservando suas propriedades específicas, resultando uma diversidade minimamente alcançada, onde o minimamente seja cada vez mais distante.

FLOR-HORMÔNIO

Caiu noite-tensa
Temeu medo-amante
Amou flor-primeira
Floriu essências-poucas

Subiu teto-céu
Serviu corpo-mente
Mentiu instinto-carne
Instituiu sintético-prazer

Desintegrou bruta-matéria
Bravejou presa-dentes
Preveu ferormônio-calor
Morreu gozo-primeiro




UIVOS

Passei pela rua dos prazeres
Roubei da donzela um convencional beijo


Cruzei a ruela afogado de salivas


Li Vatsyayana,
Atingi ao Artha, Dharma e o Kama


Joguei no lixo a imperfeição
Matei todas minhas ânsias


Dormi ao som dos uivos





MATA-VIRGEM-MATO

Não me mato de saudade
Mato-me no mato
Mato, saudade mata
Mata-virgem, mata-saudade
Saudade-morta, virgem-mato
Mata no mato-virgem saudade
Saudade de mato-não-mata
Virgem não mata saudade

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

TOLICE

O abismo das imaginárias e absurdas tolices
Desperta sedentamente o vinho do prazer



Embriaga ao ritmo obsessivo do acaso
Desconserta o caminho restrito de algumas palavras



Abandona o medo convencional crônico
Desobstrui as vias, veias e velhas manias



Mostra um caminho distante apenas da razão
Próximo de um lugar onde inconscientemente desejamos estar