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domingo, 27 de abril de 2008

RASANTE




Aos pousos rasos
tropicava
distraía seus tombos
rolava ao chão entre galhos e pedras

emaranhava
retraía os músculos da testa
dopava-se de dores

emancipava
costurava autonomia
vestia-se de pássaro

caía
subia
descia

pousava raso e voava profundo


segunda-feira, 7 de abril de 2008

Máximas oscilantes


Depois de algum tempo escondido resolvi sair de dentro da garrafa. Não como gênio. Muito menos como quem espera um gênio. Simplesmente como alguém que sai de dentro de uma garrafa. Era sufocante. Nada como estar fora. O relógio girou os ponteiros tão rápido que meu tempo não pode acompanhar. Afinal, era uma garrafa ou uma máquina do tempo? As coisas estão aí. Algumas outras que estavam, não. E essas perguntas me faço: Quem estava? O que estava? Não me lembro! Não lembro! Talvez não devesse lembrar. Algo está ausente. Mas isso não é jogo dos sete erros! O que eu devo procurar? Algo pode estar faltando em qualquer parte, movimento, plano de fundo. O que devo distinguir é se realmente essa ausência faz diferença. Caso contrário deveria deixar como algo que sei que falta, mas não me impede de viver. Dizem que quando a gente não lembra é porque realmente não é algo importante. Dizem outras tantas coisas. Com o tempo talvez não perceba a ausência. Aliás, ela deve deixar de existir. Mas também pode aflorar. Apesar da segurança, preferi o risco. Saí arrotado. Percebi que caibo em pequenos lugares e por menores que sejam, não são desproporcionais pela espacialidade. Na garrafa que me escondi, escrevi um recado. Depois tampei-a e joguei-a ao mar. Um dia alguém a encontra. Hoje, aqui e agora, ainda procuro o motivo pelo qual saí. Creio não estar relacionado com uma ausência. Mas e a garrafa? Essa, talvez ainda navegue em algum ponto úmido ou tenha encalhada por areias desconhecidas.