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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Cultive um pulmão no seu jardim


Dia 23 de setembro inicia a primavera no hemisfério sul. É o início de uma fase de renovação. A natureza passa a reativar suas cores e ofuscar seu brilho.

No dia 21 é comemorado o dia da Árvore.

Na escola, nos primeiros anos de minha educação alfabetizada, nessa época, ganhávamos uma mudinha para levar e plantar em casa. Era um misto de espécies nativas: aroeira, embaúba, pitangueira, ameixeira, goiabeira, cerejeira, etc. Cada aluno pegava uma, sortida. Todas elas, depois de plantadas e desenvolvidas, deram sua contribuição como elemento de manutenção da vida. Estabeleceram as trocas gasosas para nos possibilitar o oxigênio, ajudaram na infiltração da água no solo, na diminuição da erosão, serviram de abrigo, tanto para o sol quanto para a chuva, deixaram o ambiente mais fresco e confortável, além de servirem de casa e produzir alimentos para milhares de animais, insetos, outras plantas e microorganismos essenciais para a continuidade do ciclo biológico no planeta.

Plantar uma árvore significa um pouco de tudo isso. Você pode dar uma pegada mais poética, desenhar, escrever, declamar, encontrar qualquer outro sentido. O fato é que ela agrega tudo isso. Possibilita essa harmonia. Parece tão lógico. A importância que descrevo, talvez, nem fosse a ideia dos professores, na época. E talvez, o que importa nem tenha sido o sentido da comemoração em si. Sei que, desde ali, comecei a plantar um pedaço do meu pulmão, mesmo sem sequer ainda ter perdido um pedaço dele. Sem querer ajudei a recompensar um pouco da parte que também ajudei a destruir. E quando falamos de pulmão, falamos em respirar. Em sobreviver. Pulmão é autonomia. Como sobreviver?

Calma, isso é apenas conseqüência de tudo que consumimos. E não se preocupe, não estamos sós. Muitos, em tantos lugares, já também não possuem os pulmões. Já os consumiram. Outros, nem tem noção da perda.  Enquanto o ar ainda sobra e os pulmões ainda refrescam e aliviam o peito, continuo, apesar de tudo, praticando o auto-canibalismo. E o pior é que, até hoje, desde a época da escola, quase não tenho reposto os pedaços do pulmão que consumo.

Assim, mais uma vez, no mês de setembro me lembro de tentar buscar uma definição mais adequada para a palavra “Independência”.


(Publicada na Revista Premier - Setembro 2010)
http://www.revistapremier.com.br/site/Post/Post.aspx?id=1378

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